domingo, 8 de janeiro de 2012

Em tempos de monografia...

          Quem me conhece, sabe o quanto os meus romances me fazem falta. Como me faz bem, narrativas que, não se encontram atrelados a nenhum fim acadêmico. Um dia qualquer do semestre passado, caminhava para o ponto de ônibus. E na saída da UERJ, como já era de esperar, uma banquinha de livros improvisada e lá comprei um livro do Luiz Fernando Veríssimo. Umas crônicas que algumas eu já conhecia, devido a  época do teatro e outras que passei a conhecer. E nunca uma fez tanto sentido como essa, que vim relembrar em meus tempos de monografia.


O Suicida e o Computador

Depois de fazer o laço da forca e colocar uma cadeira embaixo, o escritor sentou-se atrás da sua mesa de trabalho, ligou o computador e digitou:

"No fundo, no fundo, os escritores passam o tempo todo redigindo a sua nota de suicida. Os que se suicidam mesmo são os que a terminam mais cedo."

Levantou-se, subiu na cadeira sob a forca e colocou a forca no pescoço. Depois retirou a forca do pescoço, desceu da cadeira, voltou ao computador e apagou o segundo "no fundo". Ficava mais enxuto. Mais categórico. Releu a nota e achou que estava curta. Pensou um pouco, depois acrescentou:

"Há os que se suicidam antes de escapar da terrível agonia de encontrar um final para a nota. O suicidio substitui o final. O suicídio é o final."

Levantou-se, subiu na cadeira, colocou a forca no pescoço e ficou pensando. Lembrou-se de uma frase de Borges. Encaixa, pensou, retirando a corda do pescoço, descendo da cadeira e voltando ao computador. Digitou:

"Borges disse que o escritor publica seus livros para livrar-se deles, senão passaria o resto da vida reescrevendo-os. O suicídio substitui a publicação. O suicídio é a publicação. No caso, o livro livra-se do escritor."

Levantou-se, subiu na cadeira, mas desceu da cadeira antes de colocar a forca no pescoço. Lembrara-se de outra coisa. Voltou ao computador e, entre o penúltimo e o último parágrafo, inseriu:

"Há escritores que escrevem um grande livro, ou uma grande nota de suicida, e depois nunca mais conseguem escrever outro. Atribuem a um bloqueio, ao medo do fracasso. Não é nada disso. É que escreveram a nota, mas esqueceram-se de se suicidar. Passam o resto da vida sabendo que faltou alguma coisa na sua obra e não sabendo o que é. Faltou o suicídio."

Levantou-se, ficou olhando a tela do computador, depois sentou-se de novo. Digitou:

"No fundo, no fundo, a agonia é saber quando se terminou. Há os que não sabem quando chegaram ao final da sua nota de suicida. Geralmente, são escritores de uma obra extensa. A crítica elogia sua prolixidade, a sua experimentação com formas diversas. Não sabe que ele não consegue é terminar a nota."

Desta vez não se levantou. Ficou olhando para a tela, pensando. Depois acrescentou:

"É claro que o computador agravou a agonia. Talvez uma nota de suicida definitiva só possa ser manuscrita ou datilografada à moda antiga, quando o medo de borrar o papel com correções e deixar uma impressão de desleixo para a posteridade leva o autor a ser preciso e sucinto. Tese: é impossível escrever uma nota de suicida num computador."

Era isso ? Ele releu o que tinha escrito. Apagou o segundo "no fundo". Era isso. Por via das dúvidas, guardou o texto na memória do computador. No dia seguinte o revisaria.

E foi dormir.
  Luiz Fernando Veríssimo

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Não devo esquecer...

...de comprar o livro “Pequenas Epifanias” do Caio Fernando Abreu. Li um trecho e me identifiquei. Emocionada... 

Carta para um amigo...

Flor, eu já estava prestes a ir dormir. Então li uma carta de um pai que faleceu e deixou 28 conselhos para o filho e um dos conselhos é: “Nunca abandone um amigo. Eu enterraria cadáveres por meus amigos, se eles me pedissem… por isso eu os escolhi tão cuidadosamente.”
          Isso me fez pensar que talvez eu devesse vim aqui, para abrir meu coração e desta forma a cariciar o seu.
         Seguindo nossa conversa de hoje. É um total absurdo dizer que viver de migalhas é a real felicidade. Mas no meu caso, foi uma tentativa...Não sei hoje o dia de amanhã. É o efêmero que representa a duração das coisas, o que é duro e quer ser para sempre tá mais pra morte. Nada é pra sempre...até o amor se modifica, para o bem e para o mal.
Você não sabe como eu te admiro. Queria ser forte assim, decidida...eu te sigo como exemplo. Acho você um grande exemplo de mulher forte. Mas como toda pessoa forte, quando tende a desmoronar o choque é grande, pois não é algo recorrente...sei que você não sabe como lidar com isso.
        Flor, enquanto o mundo vai pedir para você não chorar. Eu direi uma coisa meio chata...Mas funciona afinal você é humana...Desmorone, chore, grite...a gente precisa transbordar. E que sejamos alma. E que sejamos sinceros conosco. Sofrer por amor não é nenhuma vergonha. Antes sofrer por não ter o amor, do que, viver sem nem saber o que é querer bem, um bem!
         Se tiver que acontecer o destino vai ser virar em dois, mas vai colocar vocês de volta. Agora se puder, quero que não dedique sua vida a ele...Essa dica é mais para mim. Os homens quando sentem que nos tem, tendem a achar que sempre estaremos lá disponíveis...

**Amiga não passei a limpo esse texto. Resolvi escrever como apareceu em meu coração. Uma vez li a Clarice Lispector e ela dizia que a cada leitura ela modificava seu texto... Não quero perder a essência. Fui alma...e alma não tem vocabulário correto...meu abraço, minha amiga!